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sexta-feira, 15 de abril de 2016

Madrepérola

Sou uma ostra.
Flutuo nas lágrimas
das mães baleia
e de todos os marinheiros nostálgicos.
Banqueteio-me com migalhas
e as entendo.
Vivo dos cílios do mar
para que ela e eu choremos juntas.

Sou uma ostra.
Tenho milhares de corações em cada praia,
minhas entranhas são feitas de sol e serenidade verde.
Cumprimento aos peixes
canto com corais
e observo o balé invernal das focas.
Transformo minhas feridas em joias,
pois terei que vesti-las.

Sou uma ostra e você me come viva
e agora me contorço e grito
apenas para continuar consciente
antes que o mar me clame sua filha
antes que eu não ouça mais as praias borbulhantes
pelo menos, você diz, eu tinha
uma linda concha.

domingo, 10 de abril de 2016

solo

cada luz acesa é um desconvite
cada passo dado
sobre os focos perolados
persiste
no tilintar das chaves, agora inúteis
no final do corredor, que devolve
todas as memórias apagadas

deixe-me ser o som. deixe morrer o som.
no latão da minha mente cada toque ecoa maldito
e o azul mortiço do poente não ajuda
a deixar de ouvir

há um lago entre nós, mas não há praias
há um lago e eu poderia ser Schumann
se estivesse naquela sala
mas apenas abro caminho e digo à funcionária
que passe