Asexual Pride Androgyne Pride Non-binary Pride

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

blanchefleur

sereias mudas
sorriem pérolas
naufragadas

seus olhos calmos
de aurora
felina

dormem nas ondas
distantes
da praia

domingo, 7 de fevereiro de 2016

(escrito enquanto ouvia Moon Ate The Dark - Sand That Remembers the Rock It Once Was)

I

sento-me à beira de um pote de vidro
tão vazio tão limpo tão eterno
que não percebo que caí dentro dele

II

imensidão estéril e translúcida,
tua alma tem a boca aberta de um peixe niilista
na beira do universo não há estrelas
não há silêncio que ecoe as vozes que amavas
não há espaço ou movimento que incomode os mortos
não há esperança de tampa alguma que liberte aos insetos
não existe inferno
o inferno é um lugar de vidro e vácuo
onde nada importa
e mesmo assim dói

III

o inferno é um lugar de vidro e vácuo
onde nada importa
e tudo dói
não há voz que nos perturbe o peito
não há certezas que nos descansem os olhos
não há teto para aliviar a queda
o passado é o presente eterno
e o futuro é a esperança que murcha
como uma rosa apática no parapeito da janela
branca
resignada
chata
não há tempo a não ser o da memória -
sonhos vívidos de um coma -
as rosas mesmas são mártires
mofo cresce sem ímpeto
e a vida é uma cadeira na calçada ao fim da tarde
só ela, na rua infinita
onde nunca é noite e nunca é dia
e as pessoas mugem
lembrando de quando a areia ainda era pedra
mas essa
já não se lembra

IV

Ao soarem as quatro, um macaquinho de corda -
cínico!

Todos os animais na mesa de dissecação
parecem olhar as lâmpadas
que se curvam com piedade sobre suas cabeças
Seus olhos são vítreos mas não há mortos
sob eles o metal se conforma
com clorofórmio e ausência

Um pássaro de origami sob uma réstia de sol
esqueceu como se voa
e um jaleco deitado no chão
respira com dificuldade

V

Alguém fez uma bola de sorvete,
e a equilibrou em cima de outra,
e as equilibrou sobre um cone.

O vento que sopra e o creme que escorre
São a expressão mais enérgica da vida.